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Um Divã para Dois | Crítica

Meryl Streep reprisa seu papel Mulher do Desejo Reprimido, mas quem se destaca é Tommy Lee Jones

16.08.2012, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H44

Enquanto Cinquenta Tons de Cinza tenta convencer leitoras de que toda mulher tem dentro de si uma perversa-polimorfa como a Charlize Theron de Celebridade, o filme Um Divã para Dois (Hope Springs) trata das fantasias femininas do jeito que Hollywood melhor sabe: colocando Meryl Streep no papel de Mulher do Desejo Reprimido.

um divã para dois

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O filme do diretor de O Diabo Veste PradaDavid Frankel, mira especificamente no público de terceira idade da classe média dos EUA. Meryl e Tommy Lee Jones interpretam Kay e Arnold, casal de Omaha que, depois de 30 anos de casamento, não parece ter mais interesses em comum. Ela já viu os filhos crescidos saírem de casa, ele ainda trabalha como contador, ela cozinha, ele assiste a programas sobre golfe. Dormem em quartos separados. Quando Kay decide usar suas economias para pagar uma viagem de uma semana ao Maine, onde se consultarão com um terapeuta de casais (Steve Carell), Arnold se revolta mas a acompanha.

Um Divã para Dois funciona antes de mais nada como uma tele-aula, com o personagem de Carell fazendo algumas perguntas incômodas ao casal que, por extensão, os espectadores também farão a si mesmos, sobre hábitos na cama e outras intimidades a dois que o tempo transforma em inércia. Com exceção de uma ou outra cena, não é o tipo de filme que busca no pastelão um escape para não parecer dramático demais. O negócio de Frankel é justamente apostar na dramaticidade.

Ninguém melhor para isso do que Meryl Streep. Em Hollywood não há tema mais tabu do que o desejo - os filmes nos EUA têm sexo mas raramente permitem a fantasia, e quando permitem tratam-na como patologia - e se a atriz recordista de indicações ao Oscar alcançou esse status é, em boa medida, porque soube formatar melhor do que ninguém essa persona cara aos mitos hollywoodianos, a da mulher mal amada em busca da utopia da relação selvagem, em filmes como Entre Dois Amores e As Pontes de Madison.

Um Divã para Dois reúne os cacoetes que Meryl criou para reproduzir sempre essa mesma persona. Dá pra contar, por exemplo, a partir do próprio pôster, quantas vezes ela leva a mão à boca, um quase-tapa, como uma forma carola de se penitenciar pelo desejo que sente. O roteiro de Vanessa Taylor faz o resto do serviço, colocando Kay para folhear um guia de sexo trancada dentro do seu carro, enquanto uma chuva torrencial cai do lado de fora (tempestades são outra forma que Hollywood encontra para ilustrar o desejo secretamente).

Embora recorra a esses chavões no começo, Um Divã para Dois é bem-vindo porque no fim, passada a sessão de terapia, acaba desmistificando algumas coisas mais corriqueiras do sexo, de que outras comédias românticas sequer se aproximam. No mais, não é difícil prever que o nome de Meryl estará nas apostas do Oscar, mais uma vez. Quem pode surpreender, porém, é Tommy Lee Jones. O ator encontra o tom perfeito do seu personagem - um tipo do Centrão dos EUA que evita falar muito porque isso lhe parece uma invasão de privacidade - e inclusive ajuda Um Divã para Dois a escapar das várias fórmulas de dramalhão que o filme vai armando pra si. Um Oscar para ele (seria o primeiro como protagonista) não soa mal.

Um Divã para Dois | Trailer legendado

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Nota do Crítico
Bom