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Filmes

Entrevista

Jordan Peele fala sobre a expectativa por Nope: "Eu penso nela como um presente"

Diretor fala ao Omelete sobre sua "grife" e o que aprendeu em seu novo filme

24.08.2022, às 17H36.
Atualizada em 24.08.2022, ÀS 17H51

Em Não! Não Olhe!, o diretor e roteirista Jordan Peele faz uma consciente defesa do poder transformador do cinema, e especificamente do cinema de entretenimento. Através do registro filmado de uma aventura com OVNIs, seus protagonistas são capazes não apenas de superar o horror do trauma mas também de consumar uma reparação histórica. Peele investe sua energia nisso e parece apenas justo que o longa tenha sido um razoável sucesso nos EUA, onde está em cartaz há um mês.

De todos os filmes originais (ou seja, que não são continuações nem adaptações ou franquias) lançados no cinema do país desde o começo da pandemia, Não! Não Olhe! teve a melhor bilheteria de abertura: US$44,4 milhões no fim de semana inicial, contra US$32,1 do segundo colocado, Elvis. Esse número fica abaixo do padrão Jordan Peele - cujo Nós abriu com US$71 milhões em 2019 - mas não deixa de atestar que o comediante, hoje sinônimo de instigantes filmes de horror, realmente transformou seu nome em grife. A Universal percebe isso e permitiu que o boca a boca funcionasse; deu a Não! Não Olhe! o privilégio de uma janela de exclusividade de 30 dias nos cinemas antes de lançar o longa no streaming (estratégia que a distribuidora hoje reserva apenas para os longas que abrem acima dos US$50 milhões) e ao longo deste mês a bilheteria do filme já acumula US$114 milhões. 

Em uma coletiva de divulgação do filme, Peele falou ao Omelete sobre como ele se sente com esse status privilegiado. “Eu só consigo ficar agradecido. Sinto que eu tenho um apreço pelo público que vem desde a comédia. Um comediante quer a sala inteira rindo, não basta ter só algumas pessoas no canto que entenderam suas piadas. Isso às vezes é bom também, mas no fundo você percebe que é engraçado mesmo quando a sala toda entra nessa. E eu não quero discriminar meu público. Eu assumo que eles amam filmes do mesmo jeito que eu amo”, diz.

Na entrevista, o diretor detalha: “Eu sempre tento procurar algo que não existia num filme antes e que eu gostaria de ver pela primeira vez. Neste caso, seria um filme de OVNI verdadeiramente horripilante - como em alguns dos meus filmes favoritos, em que somos imersos de fato em determinada situação. Quando escolho o que vou fazer, eu sinto que tenho uma responsabilidade com o cinema na hora de fazer um filme como este”.

Com dois filmes de horror do currículo - Corra! em 2017 e depois Nós em 2019 - Peele descobriu que, sim, poderia atrair o público apenas com a promessa de uma premissa instigante e boas viradas de suspense e horror. Em inglês, Não! Não Olhe se chama Nope - algo como “nem ferrando” em tradução literal - e a escolha desse título críptico e monossilábico é mais um atestado na confiança de Peele como uma grife que promove a si mesma sem precisar explicar muito do filme.

As expectativas não pesam sobre o diretor. “Eu penso nelas como um presente. Só consigo pensar assim, porque do contrário eu me sentiria sufocado e sempre me questionando. Ao tomar controle do que eu acredito serem essas expectativas, isso me dá um tipo de poder quando estou criando uma história, porque quanto mais eu sei sobre o que a audiência está pensando, mais eu tenho habilidade de entregar isso ou então de virar essa expectativa de cabeça para baixo”, diz Peele.

Num cenário em que a experiência do cinema se vê bombardeada por preocupações com streaming, assinantes e ações na Bolsa de Valores, um filme de brincadeiras metalinguísticas como Nope - que vai desde o primeiro registro fílmico de um jóquei sobre cavalo no século XIX até um product placement oportuno das câmeras IMAX em cena - parece reviver o interesse pela catarse na sala escura. O mistério que envolve Nope faz parte dessa experiência: “O mais desafiador sobre o medo é que é um sentimento muito pouco prazeroso, e a gente tende a suprimi-lo. E então, depois de um tempo, ele volta muito pior. E existe algo sobre se juntar com um monte de gente [no cinema] e encarar esses medos de um modo seguro, em que você se sinta em casa, e se sinta bem ao mesmo tempo. Seu corpo precisa soltar esse medo, e é por isso que filmes de horror funcionam”, diz o diretor.

“Esse filme me ensinou muitas lições. Em termos de escopo e escala, eu aprendi que nada é inalcançável. É uma mensagem que eu diria para minha versão no passado e para qualquer pessoa tentando fazer um filme. Tudo é possível nessa mídia, se você tiver colaboração, sabe? Achar o time certo e trabalhar junto permite criar as mais grandiosas ilusões, as maiores desde, sei lá, que King Kong apareceu na tela sem ter nenhum dos recursos que temos hoje. É tudo sobre inovação”, diz Peele.

O filme estreia nesta semana  no Brasil. 

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