É impossível imaginar uma revanche entre Pennywise e o Clube dos Perdedores sem que se explore a mitologia por trás do Palhaço Dançarino. No entanto, quem esperava menções mais densas a Maturin, a tartaruga anciã que “vomitou” o universo, ou à entidade superior Gan em It: Capítulo Dois, saiu do cinema frustrado. Não que o diretor Andy Muschietti tenha ignorado o lado cósmico do vilão, mas ele definitivamente ele não mergulhou de cabeça na extensão do universo criado por Stephen King.
O filme revela que o autointitulado “Comedor de Mundos” veio para a Terra em um asteroide, caindo no que um dia viria a ser Derry. Mas, diferentemente da obra original, os primeiros a encontrá-lo - e, portanto, a enfrentá-lo - foram os nativo americanos com quem Mike Hanlon (Isaiah Mustafa) descobre o Ritual de Chüd, o único meio de derrotar a entidade. Sabe-se pelo livro, porém, que a criatura chegou milhões de anos antes da região ser habitada, tendo hibernado até o primeiro encontro com humanos - de acordo com o texto de King, ele acordou em 1715, dando início aos ciclos de extrema violência a cada 27 anos. Mesmo assim sua existência é anterior ao cataclisma que o trouxe.
Embora sua forma preferida seja a do Palhaço Dançarino, o It não é humano. Ele é um monstro interdimensional conhecido como Luzes da Morte, que veio do Macroverso e pode assumir muitas aparências, desde pessoas a animais e objetos. Debaixo de Derry, por exemplo, ele assume a forma de uma aranha gigante, como foi brevemente sugerido em It: A Coisa, em 2017, e revelada de vez no Capítulo Dois. Mas não se sabe ao certo o visual original dele, isto é, como a poderosa entidade Gan - possivelmente, a única mais forte do que o próprio Pennywise - o concebeu.
De todo modo, It tem instintos bastante primitivos. Seus únicos objetivos são comer e dormir. Para isso, ele usa todo seu arsenal de habilidades, como criar ilusões, controlar mentes e, claro, assumir a forma do maior medo da sua vítima. Afinal, como bem diz o livro, o medo torna a carne das suas presas mais saborosa. Por isso também sua preferência é por crianças: elas têm medos mais fáceis de serem compreendidos.
Com tantos poderes, só três coisas podem atrapalhar os planos de Pennywise: seu criador Gan; a Tartaruga, sua “irmã” e arqui-inimiga que representa o Bem na história; e a ausência de medo. Como bem mostrou It: A Coisa, o Clube dos Perdedores consegue a primeira vitória contra o vilão justamente quando a enfrentam. Como um bom narcisista, Pennywise não suporta a ideia de que possa ser inferior, sobretudo aos humanos. E é justamente isso que Bill, Beverly, Mike e companhia vão explorar na sequência.
E A HISTÓRIA DA FILHA E DO CIRCO?
O primeiro trailer de It: Capítulo Dois deu a entender que, talvez, Muschietti fosse seguir por outro caminho e sequer apresentar os elementos cósmicos da criatura. No encontro entre Beverly e a senhora Kersh, a assustadora personagem afirma que seu pai veio para os Estados Unidos e se juntou ao circo, como comprova um retrato na sua parede. Logo, seria o Pennywise dessa adaptação de alguma forma humano?
O longa deixa aberto a interpretações o quanto dessa história é verdade. Porém, ao que tudo indica, isso não passa de mais uma das manipulações de Pennywise para assustar os Perdedores. Vale lembrar que o grande trauma de Beverly está associado à figura de seu pai, um homem violento que a submeteu a uma série de abusos. Logo, todo esse diálogo justamente no apartamento onde a personagem de Jessica Chastain sofreu tanto é um gatilho por si só. Como bem se sabe, o It não tem escrúpulos. Vale tudo.
No entanto, isso não quer dizer que a franquia não possa vir a explorar outros momentos da história de Derry, como quando a entidade escolheu a assumir a forma do Palhaço Dançarino. Andy Muschietti afirmou ao io9 que há mitologia e material suficiente para abordar outras interações entre o vilão e os humanos. O ator Bill Skarsgård, por sua vez, se mostrou disponível para voltar a interpretar Pennywise em um eventual terceiro filme. Se a sequência repetir o sucesso do primeiro filme, é difícil acreditar que a Warner Bros. não vá querer explorar o personagem até o final.